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RG da POESIA

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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mais sobre OBRANOME II - Parque Lage - Rio de Janeiro

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Mostra 'Obranome 2' une 58 artistas em poesias visuais
Isabela Fraga, Jornal do Brasil
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(originalmente publicado no link: http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/09/24/e24098241.asp)
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RIO DE JANEIRO - No plano piloto da poesia concreta, escrito em 1951, Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos clamavam que as obras deveriam se desgarrar do verso, do ritmo e da métrica. No papel, esse pensamento iconoclasta traduziu-se em caligramas, ideogramas e concretude – desdobramentos da união entre escrita e imagem que podem ser vistos a partir de sexta-feira na exposição Obranome 2, no Parque Lage. Lá estão expostas obras de 58 artistas contemporâneos que trabalham com a relação da palavra com as artes visuais, das mais diversas formas. Com curadoria de Wagner Barja, a exposição é a segunda edição de uma série, iniciada na 1ª Bienal Internacional de Poesia, em setembro de 2008.
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– Palavra e imagem fazem parte de uma mesma semântica visual e, quando são fundidas na mesma matéria-prima, geram o conceito de obranome – explica Barja.
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Nas duas salas que a exposição ocupa, há obras tanto de artistas que sempre trabalharam com poesia visual quanto de outros que começaram a tratar dessa relação mais recentemente. Nomes como Hélio Oiticica, Waly Salomão, Xico Chaves, Luiz Ernesto e Arnaldo Antunes estão presentes, misturando artistas consagrados com outros que ainda estão estabelecendo seu nome no meio.
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Quando entra nas salas da cavalariça do parque, onda a exposição está montada, o visitante é impactado pela profusão de letras e textos espalhados nas paredes, no chão, em quadros e até como projeção. É como se a própria palavra se revoltasse contra a ideia comum de que ela deveria ficar presa a um texto. A mensagem é clara: ela é livre, e pode ser tanto escrita quanto imagem. A diferença, afinal, é bastante tênue.
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– O texto já é, por si só, uma imagem – declara Barja. – E, como imagem, se desdobra em várias coisas. Essa ideia não está no imaginário da maioria das pessoas porque estamos muito acostumados com o imediato da comunicação.
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Para Domingos Guimaraens, artista cuja obra – cinco foices cujas pontas formam a palavra “corte” – está na exposição, defende a ideia de que a poesia visual brinca com a relação entre o que é visto e o que é lido.
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– Muitas vezes, as imagens revelam demais. Já a palavra tem um quê de mistério que deixa as coisas interessantes. Por exemplo, se você faz uma descrição da mulher mais linda do mundo, a imagem vai impor um padrão. Já as suas características escritas deixam essa ideia mais aberta a subjetividades – diferencia Guimaraens. – A poesia visual joga com esses dois lados: quando eles se encontram, o contraste fica interessante.
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A projeção em vídeo que integra a exposição, do artista paraense Armando Queiroz, é um bom exemplo do uso das tecnologias digitas em poemas visuais. Intitulada Dissolução do ego, seu poevídeo mostra um comprimido efervescente com a palavra ego escrita que, ao ser diluído, vai soltando as letras.
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– As tecnologias digitais ajudam muito a integrar as outras. elas ensinam que precisam dos conteúdos para poderem trabalhar a coisa em si – opina Barja.
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Engana-se, entretanto, quem acha que a união entre os dois elementos é algo contemporâneo. Em seu manifesto “contra uma poesia de expressão, subjetiva e hedonística”, os concretistas buscavam instituir uma arte simples e concisa – como exemplifica com perfeição o clássico poema de Augusto de Campos, em que palavras “luxo” formavam outra palavra, “lixo” – e não há nada além disso. Tais preceitos, que formam uma das correntes estéticas mais importantes da língua portuguesa, não derrubaram versos, rimas, ritmos e expressividade. O que não significa que os ideais concretistas tenham se perdido. Muito pelo contrário.
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– Há algumas coisas que nós consideramos novidades, mas que existem desde a protoimagem da arte. Por exemplo, há poemas visuais de três séculos antes de Cristo – contextualiza o curador. – Isso não significa que poesia visual seja algo ultrapassado.
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